Por Luciano Trigo*
Num mundo soterrado diariamente por toneladas de imagens irrelevantes, a coleção Photo Poche representa um oásis para o olhar. Criada na França, em 1982, por Robert Delpire, então diretor do Centre National de la Photographie – um órgão público dedicado à conservação e difusão da imagem fotográfica – ela hoje já reúne mais de 150 títulos sobre grandes fotógrafos do mundo inteiro. Publicada em sete países, a coleção chega ao Brasil graças a uma parceria entre a editora Cosac Naify e a Acte Sud, mantendo as características do projeto original – do formato pocket ao capricho na impressão.
Os primeiros cinco volumes que chegam às livrarias, sempre com uma seleção criteriosa de imagens, acompanhadas de textos de apresentação (assinados por nomes como Jean Clair), biografia e bibliografia, apresentam as obras de Henri Cartier-Bresson, Man Ray, Helmut Newton, Elliott Erwitt e Sebastião Salgado. Salgado era o único brasileiro a integrar o catálogo até maio de 2011, quando Tiago Santana foi incorporado ao time, com seu livro Sertões. A intenção da editora é lançar 10 títulos por ano, com tiragens de 5 mil a 7 mil exemplares.
Classificada por Pierre Bourdieu, nos anos 60, como uma “arte mediana”, subalterna às artes plásticas e à literatura, a fotografia levou muitas décadas para consolidar seu status pleno como meio de expressão artística. Hoje o problema que ela enfrenta é outro: a capacidade infinita da tecnologia digital de produzir efeitos e manipular imagens, a ponto de tornar impossível diferenciar o “autêntico” do “fabricado”. Por isso mesmo, quando o nosso olhar pousa sobre as fotografias dos mestres reunidos na coleção Photo Poche – mesmo quando são imagens posadas – a sensação que temos é a enxergar algo muito mais real e verdadeiro do que quando nos deparamos com as efêmeras imagens contemporâneas que povoam a mídia cotidianamente.
Na definição de Cartier-Bresson, fotografar é – num mesmo instante e numa fração de segundo – “reconhecer um fato e a organização das formas percebidas visualmente que exprimem e significam esse fato”. Esse gesto, que envolve tanto a intuição jornalística quanto a vocação artística, está hoje aparentemente acessível a todos e a qualquer um: o ato de fotografar parece ter perdido sua aura de mistério. Mas só aparentemente: a revolução digital universaliza os meios, não o talento. Como diz um personagem de um antigo filme de Wim Wenders, ”olhos não se compram”.
Coleção Photo Poche Cosac Naify, 144 pgs. cada volume.Caixa com os cinco volumes: R$159; cada volume: R$34
GALERIA:
HENRI CARTIER-BRESSON (1908-2004) – Um dos maiores fotodocumentaristas do século 20. Com sua câmera Leica, registrou a Europa abalada pela guerra, a vitória comunista na China e cenas cotidianas de Paris. Retratou artistas e escritores Giacometti, Sartre e William Faulkner. Em 1947, fundou a agência Magnum, com Robert Capa e outros fotojornalistas.
MAN RAY (1890-1976) – Fotógrafo do Surrealismo, iniciou-se na pintura e usou a câmera para produzir imagens artísticas. Suas “raiografias”, definidas por Jean Cocteau como “quadros pintados com a luz”, foram inovações perturbadoras no contexto da visão moderna da fotografia como documento da realidade. Fez retratos memoráveis de contemporâneos como Duchamp, Matisse e André Breton.
HELMUT NEWTON (1920-2004) – O “fotógrafo do nu e do vestido”, que captou como ninguém a expressividade das roupas, criando potentes imagens de moda com retratos de mulheres nuas. “Embora Newton tenha construído sua reputação como fotógrafo de moda, suas fotografias sobreviveram às modas por elas ilustradas”, escreve o estilista Karl Lagerfeld no texto de introdução.
ELLIOT ERWITT (1928-) – Americano nascido em Paris, filho de russos e criado na Itália, esse fotojornalista trabalha há mais de 50 anos para a mítica agência Magnum e rodou o planeta registrando imagens originais, engraçadas e poéticas. Um bovino em Katmandu, um casal na Sibéria, um cavalo em Brasília, Marylin Monroe em Nevada e cães do mundo inteiro.
SEBASTIÃO SALGADO (1944-) – Nascido em Aimorés, Minas Gerais, estudou economia, mas logo se interessou pela fotografía e seu potencialexpressivo e político. Trabalhadores e crianças em situação de risco,êxodos e rituais fúnebres são imagens que se tornaram símbolos de seu modo único de retratar e denunciar os limites da condição humana.
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